quarta-feira, 11 de junho de 2014

Migração noturna



























O que se abre quando as pálpebras
se fecham
passarelas
do pré-deserto
pois é água
a memória
que ainda escoa em sulcos
atrás de palmeiras de plástico
úlceras de sombras alongadas
na tábua de passar roupa
atrás de vagos vultos
um sol devasta
a área de serviço
o sinteco de tacos gastos
câncer de pele
o horizonte
lançando ameaças
saarianas
do hall à varanda
quando mais fechados
estão os olhos
carcaças jogadas no ocaso
da cozinha
então
surge música
e narguilé
no quarto dos fundos
surge você
e seu cortejo de eunucos
e machos
e passa
passa
por cima dos meus olhos
fechados
bem fechados
para não ver
a caravana de carros
no meio da avenida
e você
minha tempestade de areia
que não passa
não passa




Um comentário:

  1. Bonito.
    Dei umas voltas no seu blog para me atualizar =).
    Abração.

    ResponderExcluir