pula-pula
a marafona sobre o abdômen do morto, o peso desproporcional afunda pouco a
pouco a dissoluta carne arqueada, voluta ulcerada de volta ao útero, cornija
para escoar lágrimas fingidas. pisa-pisa a face teriomórfica entre touro e
carneiro, vértebras partidas, a flácida barriga de estrias esverdeadas aberta aos
domingos para expiação pública e taxonomia, quase dobrado agora folha rasurada,
bolas de pelo como amuletos macabros rolam ladeira abaixo pela goela do falso
messias que proclamava proezas sexuais - pura fantasia para viúvas de homens
mortos de tédio. agora o fêmur quase atravessando a garganta. outras carnes
mofadas prensaram as letras com as quais esquiara esperança e sordidez, também
atiraram insultos e serpentes em seu peito, dos pulmões sem pneuma vazavam
vigílias alucinógenas e lamparinas para os dias de letras turvas. os poemas em
bacias entulhadas de sal e olhos-vigias perdiam a caligrafia de infâmias. forjaram
suas amantes uma cruz para a morte, mas todos sabem que o rei apócrifo enforcou-se
de palavras, as frases enroscaram-se arame farpado no pescoço roído por prazeres
de aluguel, sílabas de pernas abertas esfregavam esponjas e xanas em sua face
esquerda enquanto a direita era todo o cenário do deserto. para sempre lançado do lado de lá das palavras.
ainda que não existam deuses e não tenha alcançado o inferno, o morto não pode
ser enterrado. quem um dia o calvário de um nome, nunca desnomeado.
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