domingo, 5 de maio de 2013

Segunda incursão à carne

Egon Schiele




O amor talvez fugisse ao se abrir um guarda-chuva enquanto a cabeça, virada à esquerda,  pensava em travessias. O amor faria bater artérias, portas e janelas, lançando-as do batente ao deserto? Faria cessar a névoa do existir às cegas, entronizando no vácuo uma claridade talvez insuportável, brilho paralisante em frestas pelas quais o vento invadia a câmara mortuária onde os sonhos? Se falhos e incompletos, se lacunosos e obsoletos, como a tentativa de domínio sobre natureza diversa da nossa ou sobre aqueles que brotam de nossa urgência e abandono? Onde a possibilidade de circular entre vultos que nos escapam a tardes ensolaradas, lábios que recuam ao primeiro sinal de tangência? O arrepio, no entanto, levantava suspeitas sobre o incontrolável movimento da pele: sístole e diástole, narinas dilatadas, a pressão sanguínea em alta. Impossível saber o que habita o outro lado, apenas mergulho kamikaze como impulso.


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