domingo, 28 de abril de 2013

O grande desastre antiaéreo de ontem

Trabalho do artista australiano Jeremy Geddes





















Ela na garupa
tremia
na chuva
(gosto de moto
como café
bem forte
na curva,
joelho 
rasgando
o chão),
por isso
a letra 
desestabilizava
verdades
a 120 km/h.


Os gritos
no retrovisor
não captaram
veículo
imprevisto
na contramão.


Dois capacetes
rolaram
o horizonte
no asfalto.



sexta-feira, 26 de abril de 2013

Texto em Mallarmargens





Incansável serpente que se sonha ouroboros mallarmargeando caminhos. Agora no km 8. Leia em


quinta-feira, 25 de abril de 2013

Guerra de facções

Robert Oltay - Bomben für Sarajewo 1995






















Deu agorinha mesmo na Rádio Não Sei  Qual. Gravei no meu decodificador de banalidades cotidianas. Alguma coisa se perdeu, é claro, muita interferência de campanas, hackers, gravações clandestinas, espionagem policial, voyeurs amadores, mas o fato objetivo, cru, insofismável  pôde ser reconstruído em sua íntegra no texto abaixo.


Guerra de facções


Tiroteio cerrado
em plena Praça Seca.

Homens encapuzados
fortemente armados
desembarcaram
de dois discos-voadores
por volta das duas horas
para conquistarem
páginas alheias
com fuzis
dáctilos,
peons,
troqueus,
iambos,
anapestos
e espondeus.
A população viu
apavorada
versos desmancharem o céu
com enjambements
e constelações concretistas.
Cacófatos estrondosos
foram ouvidos
 a quilômetros
de distância:
dez poetas herméticos
morreram de infarto.
Uma manifestação de apoio
à horda invasora
organizada por poetas visuais
terminou em pancadaria
generalizada.

As autoridades,
vestidas de escândalos e negociatas,
acabam de afirmar sobre o fato:
“Não vamos negociar.
poetas sempre foram pedra no sapato.”


quarta-feira, 24 de abril de 2013

Código de passagem


















Adestrada
em faixas
na pista
desistiu
de traçar
caminhos

Onde quer que vá
a vida
de andarilha
esbarra
as omoplatas
no código de barras




Zona zero






















Carrego comigo
um bloco antigo
sem pauta
ainda virgem.

Pensei
povoá-lo
de letras ilegíveis
mas veio
extrema curva fechada.

As folhas
ainda adormecem sem mácula;
as palavras impossíveis
queimaram as asas
ao saltarem pelas janelas.

Seguro-o
num gesto inócuo
com redobrado vigor.
Agora é tarde:
a última palavra
já afundou todas as sílabas na lama.

Carrego comigo
um bloco em branco;
arredio,
intratável.
De suas folhas ocas 
um foco de intolerância bruta
expulsa qualquer palavra.



segunda-feira, 22 de abril de 2013

A loja do outro lado da rua

Giorgio De Chirico



*

Uma fase muda a galope próxima. Tantas pétalas as fases, frases disfarces da rosa sem rosto. A leveza desejada, no entanto, turva-se ante o tumulto de dias pesados. Nunca se sabe de que lado a    página do próximo minuto cairá virada. Alguma corrente secreta de  ar anuncia recolhimento de luz em redes inquietas, impulso a cisternas anímicas, queda em aquíferos protegidos na área ao sul do pâncreas. Vou buscar um desenho perdido dentro do útero da linguagem impura. Tudo o que preciso fica agarrado às paredes do túnel, livro rupestre de falsa profundidade. Tempo moído, pele, película, pó. Logo você chega com esse cordãozinho de São Judas Tadeu balançando em ouro falso e tão redundante quanto o ondular ofegante daquilo que vejo logo abaixo dele.

*

Você chega com esse cordãozinho de São Judas Tadeu balançando em ouro falso e tão redundante quanto o ondular ofegante daquilo que vejo logo abaixo dele. Então os quadros na parede trocam de lugar, perdem o ar de reprodução barata: o nu veste-se de traças, a marinha engole as ondas como se fossem aspirinas de espumas, o falso Renoir derruba champagne em mesas e vestidos do “Le Moulin de la Galette” adquirido do marchand camelô 49 na Central do Brasil. Anulo o gesto instintivo de fuga para enfrentar os demônios ancorados no mar sem fundo dos seus olhos de impura cocaína. Exorcizar o fôlego de mil súcubos suicidas arremessados em fúria contra o meu corpo supera qualquer possibilidade de defesa. Não consigo evitar tapas no rosto, pescoço, tórax. Só dez degraus abaixo da porta percebo o logro; a respiração alterada era um convite, sim, não para cama, mas para retirada. Fico sentado na portaria do prédio de conjugados à espera da trouxa de roupa jogada com insultos pela janela.

*

Sentado na portaria do prédio de conjugados à espera da trouxa de roupa jogada com insultos pela janela, vejo a pequena comerciária varrer o chão da calçada em frente à loja de presentes do outro lado da rua. Olha para todos os lados, talvez a mova vergonha de conhecidos, talvez siga orientação do gordo fumador de cachimbo dono da loja e de mil mercadorias (perfumes, bijuterias, empregadas). Os cabelos louros da vendedora luziam ao sol até serem eclipsados por um ônibus parado entre nós. Quando o veículo enfim arrancou rumo a Irajá, os cachos da pequena tornaram-se negros  e a vassoura voara para longe. Vejo-a agora mais magra e bem baixinha. Atravesso a rua para fugir à miopia. Toco as suas costas para ver se ela era de carne e osso mesmo. Vira o rosto triste e sem beleza, ao se arregalarem, os olhos dispersam uma grossa camada de poeira e desesperança. Sinto que ela não pode me ver, está em pedaços, conformada a um corpo apenas por um contrato de experiência, mãos trêmulas quase na porta do desemprego, retrato à espera de carimbo. O senhor feudal vomita um nome. Meu pequeno e dócil manequim de fibra de vidro desaparece do outro lado da vitrine.

*

Quando o pequeno e dócil manequim de fibra de vidro desapareceu do outro lado da vitrine, voltei à entrada do prédio no Catete. Um casal saía às gargalhadas. Duas crianças atrás da explosão de alegria me olharam curiosas. A trouxa quase caiu sobre a mais nova. Discussão áspera. O corpulento diz que vai me encher de porrada, a mulher me xinga. Dizem que não valho nada, não trabalho, exploro a mulher do terceiro andar, uso drogas, desrespeito todas as senhoras casadas, mau-caráter, ateu e tarado. O troglodita me encurrala no canteiro à esquerda da entrada, debaixo da placa “Palais de Sérénité”. Seus olhos espumosos já me veem saco de pancada. Uma chuva de livros caiu sobre o casal e os filhos. Dicionários, romances russos, livros de xadrez, contistas contemporâneos, poesia erótica, manuais de linguística, meu mundo impresso em anacronia desabava: Deus me mandava o maná prometido. Os livros salvaram a minha vida. Grato, Ciça, você sempre foi ruim de mira. Pulo o corpo desacordado do vizinho com a cabeça sob o dicionário Houaiss aberto no verbete irremissível - “Adjetivo de dois gêneros: 1) que não se pode remitir, que não merece perdão, imperdoável; 2) que não se pode evitar; infalível, fatal”. Me abaixo apenas para recuperar Sonetos Luxuriosos, de Aretino, traduzidos por José Paulo Paes. Desisto das roupas e demais pertences. A loja do outro lado da rua já está fechada; aberta, escancarada, imensa cratera pulsando errância na alma.

*

A  loja do outro lado da rua já estava fechada; aberta, escancarada, imensa cratera pulsando errância na alma. Espremida em algum vagão de metrô minha vendedora-manequim flutuava exausta, o calor sufocante ameaçava derreter seu corpo de cera. No conjugado do Catete Ciça vegetava, possuída por decepção e antidepressivos. A lãnguida luz de um poste inclinado me convidava a infindáveis copos. Resisti à pressão do passado nas têmporas, uma dormência subia pelas artérias alagadas de pesadelos, instalava-se nos buracos de décadas em branco. Ao microscópio meus atos, envoltos em camadas de azinhavre, pulavam semelhantes a amebas sem futuro. Tudo era pulverescência, caos, pesadelo. Sabia-me arquiteto de cidades em ruínas, sem arrependimentos e remorsos. Tudo o que precisava era acionar com êxito os mecanismos que me catapultassem a novos desastres. Nada melhor do que a escrita para afundar-me por inteiro.

*

Nada melhor do que a escrita para afundar-me por inteiro. Com Ciça, água pela cintura, no máximo à altura do pescoço. Os braços ficavam livres para tatear falsas alternativas. A mão alcançava a maçaneta da porta de emergência. De uma forma ou outra, sempre uma boia salvadora. A via de escape era invariável promessa não cumprida; na outra ponta, nova hecatombe. Com o tempo aprendi a escapar invadindo territórios alheios. Hoje, por exemplo, preciso me instalar na loja do outro lado da rua para fugir da chuva torrencial. Minto, claro, minto o tempo todo. Minha manequim quase anã virá levantar a grade inglesa às seis horas da manhã. Eis a causa das rachaduras profundas e do inchaço no hipotálamo. Minha manequim-boia-farol um passo à frente. Quando deixar a mochila sobre o balcão e começar a fechar mecanicamente a sombrinha azul circulada por um dragão dourado, vislumbrará o vulto intruso encostado na prateleira de perfumes paraguaios. Apavorada, sim, mas muda. Tentarei falar de destino, de ser impulsionado por ventos misteriosos, da atração exercida sobre um corpo pela passagem da lua sobre o deserto. Todas as palavras irão se desintegrar nos olhos de resina da manequim quase menina. Ela não se acalmará com frases absurdas. Permaneceremos suspensos no medo do próximo gesto. Não, nada disso acontecerá, preciso dormir para voltar à realidade. Agora, no escuro entre balcões e mercadorias, deito-me com fones nos ouvidos, a pistola à altura das mãos.

*

Agora, no escuro entre balcões e mercadorias, deito-me com fones nos ouvidos, a pistola à altura das mãos. Quando acordar, investigarei, debaixo da camada de tártaro dos dentes tortos da minha pequena notável, o nome. Não, melhor não procurar porra nenhuma. Todas as mulheres, ao me revelarem os nomes, abriram um dicionário de centopeias carnívoras especializadas em degustação de desastres amorosos. Sim, nomes lançam nexos, laços, algemas. Nomes exigem biografia e memória, apontam tangências, confluências, margem mínima de afinidades. Nomes são feridas inscritas em corpos de próteses e instantâneos com tintas tragicômicas. Nomes são matilhas furiosas que me perseguem em filas de emprego e ocupações de sem-teto. Alguns tiram fotos, mandam e-mails e torpedos, gostam de gafieira. Permaneçamos, meu bem, indecifráveis anônimos vagabundos. A noite tem pernas curtas. Algum nome secreto abre com estridência a porta da loja e, ao tentar reacendê-la no grau cinza da rotina, pisa o meu pé esquerdo. Arma já bem guardada na cintura, levantei-me incontinente. A situação era confusa. Felizmente não havia explicações. A arma já estava na cintura. Minha musa-manequim esculpida em espanto no interior de magazine muquirana, diva no meio de bugigangas chinesas e paraguaias. Era o meu paraíso: o reino de notas frias, de cédulas falsas, de mulheres chaves de cadeia, de minha subliteratura.

*

Era o meu paraíso: o reino de notas frias, de cédulas falsas, de mulheres chaves de cadeia, de minha subliteratura. A pequena funcionária tremia agarrada à mochila coalhada de bótons de ícones pop. Ergueu o braço direito para se apoiar no balcão. Vi as pulseiras girarem no punho como se descobrissem combinações do cofre em que se ocultam pulsações assassinas. Um sentimento de júbilo arrastou-me alguns passos em sua direção. Queria lamber a sensação de abandono nas salas circulares de minha musa-manequim presas à língua acostumada à cegueira de comandos, talvez pudesse retirar as agulhas fincadas no pergaminho enrugado do rosto devastado por retroescavadeiras de lares desfeitos, descobrir um mapa submerso de peixes entorpecidos à procura de águas vulcânicas, ricas em nutrientes, coágulos, miomas. Pus as duas mãos sobre o material sintético que ligava os ombros à cartilagem mecânica dos braços. O corpo parou de tremer. Seus olhos instalaram um alfabeto estranho em meu destino.

*

Seus olhos instalaram um alfabeto estranho em meu destino. Outro DNA invadia meu organismo. Os braços pareciam imantizados ao dorso da desconhecida, o tórax inflado, as mãos energizadas e mais largas, a pulseira metálica do relógio arrebentou-se no pulso, o corpo mais pesado e cinco centímetros mais alto.  Tudo era estranheza e turbulência. Quando virei a cabeça para ver quem acabava de ultrapassar o limiar da porta, bochechas maiores do que as de Dizzy Gillespie começaram a insultar a pequena escrava. Da garganta apoplética do comerciante saíam fileiras de nomes sujos.  Raspavam a gosma do farto bigode, banhavam-se em perdigotos e cheques sem fundos, batiam no estuque falho do teto  para desabarem na pele tão clara de minha doce desconhecida, em cujas veias eu podia ver pedras e peixes no fundo. A mudez de minha manequim feria a cláusula x  do contrato; na falta de açoites, uma semana sem pagamento, corte de vale-refeição e auxílio-transporte. O troglodita suava em bicas sobre o teclado em que redigia multa e fundamentações. Processo por perdas e danos. Indignação de ópera bufa com a loja transformada na casa da mãe joana. Não vacilei. Peguei a  pistola, apontei-a para o cofre incrustado naquela testa lustrosa, disposto a estourar-lhe os miolos.

*

Peguei a  pistola, apontei-a para o cofre incrustado naquela testa lustrosa, disposto a estourar-lhe os miolos, porém, após tensão provocada por rumor exasperante, o piso emborrachado estremeceu e começou a dobrar-se. Lentamente papéis amarelecidos escaparam de frestas no chão, movimentando-se em círculos até ficarem suspensos no ar. Poemas de todos os tempos flutuavam entre quinquilharias como fantasmas. Pude ver manuscritos em línguas diversas. Fragmentos de Dante, Donne, Bandeira, Cruz e Sousa, Cesário Verde, Emily Dickinson, Vallejo, Drummond, Khlébnikov, Villon, Cecília, Góngora, Wislawa Szymborska, Antíloco, Hölderlin, Arnaut Daniel levitavam entre tantos outros. Os poemas apagaram os relógios. A pequena comerciária agarrou-se ao meu pescoço. Senti seus minúsculos seios latejarem contra o suor do meu peito. Uma pontada abaixo do coração acusou um estranho dispositivo girando bem rápido dentro do meu corpo. Novo fluxo aquoso percorria minhas artérias, numa pressão intensa, como se caravelas incendiassem o rumo de continentes desconhecidos. Vi o meu rosto mover-se no círculo cor de ferrugem ao redor da pupila da pequena vendedora de miudezas. Havia uma tonalidade azulada nas maçãs do rosto, não sei se refletia a excessiva claridade da loja à beira de curto-circuito ou se minha pele buscava novas camadas de nuvens e areia. Guardei a pistola. O proprietário, aterrorizado pelo fenômeno inexplicável e pela certeza da completa falência, esquecera minha ameaça. Eu não tinha mais razões para matá-lo. Só os humanos são assassinos. Eu já assimilara a natureza complexa de minha musa-manequim. Saímos porta afora, livres para a desintegração do universo.


domingo, 21 de abril de 2013

Vagão avariado





Não aguentava mais o barulho dos trens. Locomotivas iam e vinham no imenso pátio ferroviário de Praia Formosa. Vagões de todos os tipos - tanques, fechados, isotérmicos, hoppers, gôndolas, plataformas, especiais - acoplavam-se, desacoplavam-se na montagem de composições para destinos diversos. Trabalhava emputecido. Onze dias de greve descontados no minguado contracheque. O telex no pequeno cubículo, onde se mumificava longas horas por dia, ampliava o pesadelo sonoro. Quis ser ferroviário para seguir viagem interminável. Mil aventuras de ouro adormecidas, mil mulheres esquecidas à beira de trilhos intermináveis, morrer cada noite em um corpo para amanhecer em outra cidade. Acabou lotado numa área de manobras com ar de sucata. Agora a vida em aberto transformara-se em peso insuportável: âncora lançada em meia-água na Baixada Fluminense com mulher e três filhos. Mais um estrondo, dessa vez muito forte; a locomotiva descarrilou e tombou dois vagões. Pôde ver, pelas grades da janela da estação, sua cabeça esmagada entre dormentes e rodas de aço.


quinta-feira, 18 de abril de 2013

Sonho de Adrian Leverkühn vira fumaça



















A música murcha no ar
em ondas médias
curtas
a vida
às vezes
a carne
no microondas
viva


Poema de Robert Creeley




Não tenho pretensões de vir a ser um tradutor profissional, como, no entanto, as traduções servem para oxigenar palavras, significados e imaginação de qualquer poeta, tomei Robert Creeley como alvo.



After Lorca

For M. Marti

The Church is a business, and the rich
are the business men.
When they pull on the bells, the
poor come pilling in and when a poor man dies, he has a wooden
cross,
and they rush through
the ceremony.

But when a rich man dies, they
drag out the Sacrament
and a golden Cross, and go doucement, doucement
to the cemetery.

And the poor love it
and think it's crazy.


Depois de Lorca

para M. Marti

A Igreja é um negócio, e os ricos
são homens de negócios.
Quando os sinos batem, os
pobres se aglomeram na nave e quando morre um pobre, ganha uma cruz
de madeira,
e aceleram a cerimônia.

Mas quando um rico morre
suprimem o Sacramento
e a Cruz dourada, e caminham doucement, doucement
para o cemitério.

E os pobres adoram
e acham uma loucura.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Pilhagem























bugi

          ganga

bruta

          fruta

fora

          das veias

de

          floradas

jaz

          idas

no boogie-woogie

          das gangues

o século XXI

          avança

gangrena

           onde um país





terça-feira, 16 de abril de 2013

Poema


Lua de argila


























O ocre da escuta
destila
líquido
fio
acre
de tragédia
em tom labareda
alaranjada.

Estuam-se
na foz da noite
em que flutuam
águas-estojo do rio,
lâminas lucíferas
lançadas em roxo
para estufar o mar.

Brilho e barro
bifurcam o meridiano,
laço ou forca
do qual pende a lua
morta.
O cosmos oculto
atrás da lama dos prédios.
Em ângulo deslocado
alguma logomarca
coloca a lua num saco.

É preciso acender outro  vocabulário.


Fragmento em Mallarmargens




Minha prosa prossegue serpenteando Mallarmargens. Agora o quinto anel da víbora. Confiram em http://www.mallarmargens.com/


domingo, 14 de abril de 2013

Paco Cac em lemniscata















De Gandaia a Z
calam-se
as notas em gotas
no agogô.
Cinza a escala
de cordas
exaustas de solo.
Deixar estufar
o mofo
do estojo
onde hiberna
a flauta-vértebra.
Reverberar
a palavra não linear
do poema,
infiltração
de moluscos
em castelos de letras,
agora
desabado
como o sorriso
mais largo
abafado
pelos cavaletes
que inter
ditam
a rua
com avisos
subitâneos:
“Meia pista”,
“Procure riso transversal”,
“Poesia, ao fundo”.


SingulAR


























Para meu espanto
vi um ramo de cerejeira
dar uma rasteira 
no vento.


quinta-feira, 11 de abril de 2013

quarta-feira, 10 de abril de 2013

7 leminskilos de poesia

Minha poemhommage estéril-cacofônica ao polaco-oco-datado etc.







7 leminskilos de poesia


Migro comigo,
mas não consigo
ir adiante.
Nunca me sigo.
Fico sempre
muito atrás
ou mais distante.


terça-feira, 9 de abril de 2013

Anne Sexton (1928/1974)

























The Firebombers

We are America.
We are the coffin fillers.
We are the grocers of death.
We pack them in crates like cauliflowers.

The bomb opens like a shoebox.
And the child?
The child is certainly not yawning.
And the woman?
The woman is bathing her heart.
It has been torn out of her
and as a last act
she is rinsing it off in the river.
This is the death market.

America,
where are your credentials?

 ***

Os bombardeiros

Nós somos a América.
Somos enchedores de caixões.
Nós somos mascates da morte.
Arrumamos cadáveres como couves-flores em caixotes.

A bomba se abre qual caixa de sapatos.
E a criança?
A criança certamente não boceja.
E a mulher?
A mulher lava o seu coração.
Foi-lhe arrancado vivo
e agora, num último ato,
enxágua-o no rio.
Este é o mercado da morte.

América,
onde estão as tuas credenciais?