segunda-feira, 11 de março de 2013

O banhista noturno

Adriana Varejão



















Do chuveiro
caem canções anacrônicas
em pingos verde-século passado.

Entre o blindex
e o registro,
a alma fora do tom
se liberta
de blindagem e despojos,
despejados
em árias-assovios
renascentes.

A propriedade da água
lava a cena imprópria
do canto entrando pelo cano,
limpa o gesto contra o esgoto,
esgotamento.

Erosão e desgaste
a vida líquida.

A toalha -
talhe ou rasura
que voa
como sepultura
diante do espelho:
carimbo de realidade.

(Estivesse você aqui agora
canções nos rasgariam em gotas
da pélvis até a boca)


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