quarta-feira, 17 de outubro de 2012

26 não hai nem kais
























Há males que vêm,
há outros que vão embora,
os piores voltam.

2

Folhas maduras
dançam na luz noturna
do olho da rua.

3

Mãos estendidas
na chuva. Os pés não cabem
na rua alagada.

4

Luz suspensa. Ar
parado. Vento morto.
Você no portão.

5

O frio nos espia
com grossas lentes azuis.
Geleira no corpo.

6

As folhas estalam.
Minha amada me segue
para cegar-me.

7

Cigarras virão
com canções de despedida
aquecer o verão.

8

Bashô no Leblon
viu a lágrima na onda
da banhista nua.

9

Frutos nos galhos
em breve. Polpa nas bocas,
pecado nos corpos.

10

Camaleão imóvel
escreve eternidade
no muro em ruínas.

11

Plantas adormecem
na cidade morta. Filtram
ar, silêncio e sonhos.

12

Risos na floresta.
Concerto a quatro mãos
a canção do amor.

13

O rumor das águas
embala a madrugada.
Carícia sonora.

14

O céu desaba
chuva e cheiro de terra.
Lentes lavadas.

15

Nova primavera
invejosa do verão
incendeia a flor.

16

Calor infernal,
aves voam em chamas
no céu amarelo.

17

Quando o outono
voltar, outro amor virá
com a aurora.

18

Estala o galho
quebrado como beijo
seco e gelado.

19

Folha de veludo
verde no chão vagabundo,
breve as formigas.

20

Tremor no céu
manhã de tempestade
sem você ao lado.

21

Sabiá suspenso
no poste cinza inclinado
canta luminoso.

22

Diz Nuno Ramos:
lesmas lambendo a lama,
juncos sob o sol.

23

Lágrimas na lua
caem de olhos magoados.
Madrugada cheia.

24

Te vejo no beco.
Cabe o universo inteiro
em via tão estreita?

25

Neblina espalha
blindagem na mata verde.
O sol traz a chave.

26

Vulto sem asas
o uirapuru de plástico
e pilha. Pilhagem.





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